sexta feira 13, sexta de sorte

sorte pra todos, é o que eu desejo. 

sou uma pessoa de sorte e sempre digo isso para os outros.

aí perguntam:

_porque? voce já ganhou na loteria? já achou dinheiro no chão?

_NÃO, nada disso. me acho com sorte por ter família, saude, emprego, de ter lutado muito na vida, e chegar aqui com “alguma” experiencia, com uns amassados e riscos na lataria, mas muita vontade de viver e de dividir.

e eu tenho lembranças. recordações. são o que nos movem.

lembranças que afloram sempre que eu abro o frasco onde estiveram guardadas.

 pois as lembranças são assim: a gente as guarda lá, num canto do cerebro, do coração, ou seja lá onde voce as guarda (de repente é numa necesseire com estampa de onça); whatever, o importante é que ao destampar aquele frasco, as lembranças voltam com a mesma intensidade do momento em que foram criadas.

hoje a Luci Cardinelli me provocou uma lembrança: ela disse lá no face que acordou sem pó de café e eu respondi imediatamente:

_vá tomar café na vizinha! ( e ela foi mesmo, pois as vizinhas dela são otimas, ela merece…)

 então me lembrei de uma parte da minha vida, de quando eu morava lá no jardim Independencia em Ribeirão Preto.

toda manhã, logo que seus maridos saíam para o trabalho, as mulheres da vizinhança íam lá em casa tomar um café com a minha mãe.

aparecia uma, tomava um café, conversava e já ía saindo quando chegava outra. parecia uma coisa combinada, pois elas nunca chegavam nem ficavam lá juntas.

as conversas eram em tom baixo, nada a ver com festa ou confusão, apenas amigas se encontrando no inicio de um dia de muito trabalho.

eram todas donas de casa e como trabalhavam aquelas mulheres!

não que a minha mãe promovesse coffe breakes, isso nem era moda na época, mas muito alem do café fresco, o que aquelas mulheres íam buscar era quem as ouvisse. quem as aconselhasse.

e minha mãe sempre foi maravilhosa pra isso.

sempre ouvindo; uma hora era uma mulher que contava das bebedeiras do marido, ou a vizinha solteira que suspeitava que estava gravida e o pior, não era do namorado, uma outra que veio mostrar uma costura.

como eu sabia? durante as ferias quando eu podia dormir até mais tarde, eu comecei a prestar atenção lá da minha cama, na conversa baixa e cadenciada que se passava logo ao lado da janela do meu quarto.

quantos problemas foram desfiados ali e foram solucionados, porque minha mãe, do jeito dela, nunca impondo mas sempre sugerindo, dizia: voce já experimentou fazer tal coisa???

na época pra mim, adolescente, aquela conversa toda era uma perda de tempo. que coisa chata ter gente logo de manhã invadindo minha casa ( que nem era minha né? era dos meus pais!)!!!

hoje passados tantos anos, vejo que as pessoas não se visitam mais apenas pra um café.

tem um medo de chegar sem avisar na casa do outro!

tem receio de incomodar, chegar em hora inoportuna.

por acaso não fomos criados nós numa casa que ficava sempre com o portão arreganhado? eu fui.

nos afastamos das pessoas porque é mais cômodo assim; não dá o trabalho de ligar e perguntar se podemos ir.

e ter de ouvir na maioria das vezes que ela esta levando um filho no judô e buscando a outra do ingles, e em seguida vai fazer as unhas e que tá sem tempo etc, etc…

então eu sinto falta disso, do que eu nunca tive: da amizade de vizinha e amiga que vem  tomar um café.

eu acho que dá pra correr atras disso ainda, de criar este costume, de fazer as minhas proprias lembranças.

hoje é uma sexta feira, e eu gosto de sextas.

 só não gosto do final de semana relâmpago que vem a seguir.

Sobre Lilian

mulher, mãe e esposa, workaholic; uma inconformada com a situação mundial; uma pessoa que ama cães, caminhar, ir a liquidações, comer jujubas; viciada em seriados americanos; prendada mas sem tempo de colocar em pratica suas habilidades; desprovida de inveja e más intenções; uma pessoa que adora joaninhas, pink, flores, romantismo, craft, musica; um pé no presente, um no passado, a cabeça no futuro; uma pessoa nada facil; que tenta se livrar do saco de ossos de vidas passadas, que vive o agora; que esqueceu o que não devia e lembra o que não quer; uma pessoa na versão enciclopédica 2.0 que não pode ser resumida.
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21 respostas para sexta feira 13, sexta de sorte

  1. Lucia Klein disse:

    oi Lilian
    sinto que a maioria , exceto raras pessoas sortudas, estão passando por isto – solidão com tanta gente em volta –
    hoje tem que marcar hora pra visitar amiga – eu acho o cumulo –
    por isto a gente vai se afastando –
    eu tb tive uma casa cheia – minha mãe era costureira – daí imagina o entra e sai , e eram amigas, vizinhas sempre lá em casa – depois ela começou dar aula de tricô , crochê, plissê…. chegava do trabalho e encontrava aquele bando de mulher na area – e eram tantas conversas, risadas , desabafos , fazia bem pra minha mãe , e para as alunas e isto ela foi fazendo história , ela deu aula para cegas, surdas , canhotas , e até hoje quando vou para a minha cidade – as senhoras falam – ah a filha da Dª Nair , como ela tá? e isto me faz muito bem – esta mulher fez a diferença – ela não so servia cafezim – ela fazia como tua mãe – café é so uma desculpa – para nos encontrarmos –
    até o psot que fiz agora sobre os squares – os quadradihos do amor – da mulherada que se encontrava toda semana para fazer os quadradinhos de crochê , e trazíamos café, chimarrão, bolos… e era nestes dias que a nós voltavamos leves –
    e em Minas quando dava aulas de reutilização, para crianças e jovens vulneraveis, e o trabalhar as mãos para fazer o que estava esinando, que eles me contavam suas vidas tristes – eu sabia mais deles que as psicologas – e é disto que sinto falta –
    a Bahia é linda , mas está me fazendo muito mal – a solidão me deixa vulneravel , estressada , brigona, tolerância zero .. porque sou aquela pessoa que tu descreveu lá em cima – eu sou tu mãe , minha mãe …. eu preciso disto –
    post desabafo aqui –
    super lindo teu post Lili – e escreve maravilhosamente bem
    bjs

  2. Mima D. disse:

    Ah, Lilly…
    Você descrevendo sua mãe no café com as amigas logo cedo me fez pensar nos seus e-mail que sempre vem também com este tom de ajudar, aconselhar, dar o colo no momento que preciso…
    E o café entre amigas sem hora marcada, pelo simples desejo de ver uma a outra, parece algo de um tempo tão, tão distante.. mas que faz tanta falta….
    Também gosto muito das sextas, e esta, 13, é como você mesmo disse, de muita sorte.
    Seu alto astral, a forma como seus posts SEMPRE me fazem pensar, não podia esperar outra coisa nesta sexta que não este melhor desejo de boa sorte!
    Será uma sexta feira treze com muita, muita coisa boa…
    E que seu otimismo e sua eterna vontade de viver e ser feliz e agradecer sempre por isso continuem a atingir minha vida de maneira tão positiva como tem sido até hoje.
    Uma sexta feira 13 de sorte. Muita sorte pra nós todas.
    Bjs

  3. Lícia Dutra disse:

    Eu também vivi isso com minha mãe que era costureira,minha mãe tinha visinhas que até hoje são amigas dela. Mas era outra época,as mulheres quando trabalhavam era dentro de casa mesmo como costureiras ou coisas desse tipo,também não tinha internet,eram cartões,cartinhas,visitas…epocas boas que infelizmente não voltam mais. Bjsss.

  4. formaplural disse:

    Tá vendo, essa tbém é uma insatisfação! Merecemos perder o tempo que temos sem ao menos conhecer nossos vizinhos? Na casa de meus pais sempre foi o maior entra e sai, isso quando meu pai não resolvia fazer uma festinha de última hora e convidar a molecada toda da rua. Pra vc ter uma ideia de como a coisa funcionava, um dos cachorrinhos que ele me deu de presente, pouco depois de uns 15 dias, morreu. Ele ficou mega encafifado e levou para fazer exames no Pasteur, só que o resultado levava 1 mês pra ficar pronto e, se o bichinho tivesse raiva, em um mês já não poderia se fazer nada. A solução: encher o carro todos os dias de crianças e levá-las para a farmácia do Sr. André ( até o farmacêtico a gente conhecia) pra tomar vacina. Claro que rolavam muitos doces após a cessão de tortura. A gente corre feito alucinado, cada vez mais, e as pequenas grandes coisas da vida ficam a segundo plano, inclusive nossos sonhos. A gente deve viver para ter história para contar. Vixi, tô revolta! Beijos, Helka

  5. sissi2011 disse:

    Um abraço de Luz e Paz. Aqui quando passo estou sempre conversando com uma amiga.

  6. Marluce disse:

    Também sinto o mesmo, não existe mais a amizade entre vizinhos. 😦
    Beijos

  7. Também lembro da minha infância quando se sentava no portão e todos conversavam enquanto as crianças brincavam. E tudo mudou bastante, ainda mais se a gente mora em “apertamento”…nem parece q se tem vizinho, é só bom dia, boa tarde no elevador. Que coisa né?
    Amei seu texto até pq adoro café e o aconchego que ele traz.

  8. Emília disse:

    Oi Lilly, ótimo ter boas lembranças de infância, sua mãe é uma pessoa que sabe ouvir por isso era tão procurada pelas amigas da vizinhança. Quanto a sexta-feira…sinto o mesmo que você, adoro a sexta-feira, mas o fim de semana passa tão rapidinho……………………………

  9. Pingback: enquanto isso, lá no outro blog « Blog da Reforma

  10. APC disse:

    Oiê! 🙂 Nasci numa sexta feira 13, e este ano calhou-me o aniversário ser de novo numa (foi no dia deste post). Quanto ao tema do blog, é uma verdade que estamos desumanizados. E ainda por cima não o suficiente, porque na verdade ainda nos ressentimos dos efeitos da solidão. Era de aproveitar para reconhecer isso e fazer algo a propósito, antes que seja tarde de mais. A gente devia conversar uns com os outros, rir, passear, cantar, dançar. Como nas tribos, sabe? É que isso fomenta a coesão, as relações de confiança e de interajuda. E é isso que é ser gente.
    Um abraço.

  11. diasadois disse:

    Lilly, mas você anda se superando nos posts, hein?! Adorei esse também. Eu sinto o mesmo, essa falta que a proximidade com outros faz. Mas ao mesmo tempo, se um vizinho bater aqui em casa, ou não irá me achar, ou me encontrará trabalhando em um projeto, limpando, estudando…
    Acho que isso é reflexo do estilo de vida que levamos hoje em dia. Pra que essa interação possa acontecer, é preciso desacelerar. O desafio é conseguir fazer isso. Essa é uma das minhas metas pra 2012!
    Beijos

  12. Marcia disse:

    Oi Lily!
    Eu morava numa cidade a 30 km de Sp, mas naquela epoca ainda não era como hoje. A rua da minha casa era sem saida (hoje ate fizeram um viaduto pra dar continuidade a ela!) e todo mundo se conhecia. A gente brincava na rua, na casa de um ou de outro, mas sempre ao ar livre. Eu literalmente “nadava” na enchurrada, andava de carrinho de rolimã, brigava e brincava com a molecada.
    Hoje as proprias crianças nao tem tempo de brincar, precisamos marcar hora para leva-los a casa dos amiguinhos, ja que todos estao ocupados com ingles, natação, mandarin…
    pena td ter mudado tanto! mudanças sao necessarias e inevitaveis, mas algumas coisas deveriam ser eternas, como as amizades e os cafes….

  13. Carol disse:

    Já falei e repito que nasci em época errada. Queria mesmo era poder ter uma vida tranquila em casa, sem precisar procurar um trabalho, ter um salário para viver. Feliz foi minha bisavó que tinha uma bela casa, com empregada fiel e amiga, dinheiro sem ter que sair de casa e um marido bom em todos os sentidos. Ela podia se dar ao luxo de ter sempre muitas pessoas a visitando. (Ah é, essa foi uma parte “rica” da família que não chegou até mim kkk).
    Beijos

  14. ana maria disse:

    oi Lilly, o que mais queria na minha csa era ter privacidade. Minha mae tinha uma pensaõ no mesmo terreno que a gente morava qdo eu era pequena.Ela tinha loja também, tinha sempre empregada pra ajudar, eu achva uma maravilha o sossego da casa dos outros. rs
    Casei e fiquei sossegda demais, só fui fazer amigos for da familia agora no blg, não me fazia falta, hoje estou amando.
    Mas até pra arrumar uma nova faxineira tenho um pouco de resistência pra colocar uma desconhecida dentro de casa. Mas sinto falta mesmo é de conhecer a vizinhança de bairro como antigamente, sou super conhecida por ser filha do dona mirinha, da loja e da pensão, hehe
    Mas admiro muito a batalha da minha mae, sou mais acomodada, estilo familia do pai.

    bjuuuuus

  15. Wla disse:

    oi Lilly! gostei da surpresa de ler seu post e descobrir que já morou aqui na minha cidade, Ribeirão Preto (cidade boa aqui né!).
    Quanto ao seu post, acho muito triste que a cada dia as pessoas estão se afastando mais e mais umas das outras. Acho que está ocorrendo uma inversão de valores.
    abraço.

  16. Oi, Lilly!! Na casa de meus pais também apareciam muitas vizinhas. Aqui no sul se reuniam para o chimarrão. As vezes, exatamente como tu, ficava chateada de ter sempre alguém de “papo” com minha mãe. Pois é, e hoje em dia nem mesmo meus parentes se visitam. Moro em uma casa há dois anos e muitos vizinhos nem sequer conheço. Mas, quando estou no litoral tenho vizinhas ótimas. Mando bolos, doces ou pães feito em casa e sempre recebo um carinho de volta de alguma vizinha. A diferença é que conversamos atráves de cercas de tela que nas casas de lá ainda são possíveis. Acho que a questao da visita , ou falta dela, seja em razão de que hoje todos trabalham fora e evitamos invadir o espaço alheio. Não se tem mais ” o tempo” que se tinha antigamente. Falta-nos um pouco de generosidade e até afetuosidade para oferecermos uns minutos do nosso tempo para escutar o outro. Além de a maioria das casas serem verdadeiras fortalezas, o que nos impossibilita de vermos vizinhos sentados na frente de suas casas. Mas, é uma pena…

  17. Rosi disse:

    Adorei seu texto!!!!!!!

    Me lembrou muito minha infância…e por quê a casa dos seus pais não era sua? Era sim! Sempre acho essa forma das pessoas se colocarem estranha. Quando éramos crianças, adolescentes e morávamos com eles , fazíamos parte da vida deles, da casa, dos dias, do cotidiano, e para sempre, da história…as melhores e maiores recordações que tenho são da Minha Casa de infância…rsrsrsr

    bjbjbj

    Você está postando pouco….buááááá…rsrsrsrs

  18. Camila Faria disse:

    Que delícia esse post. Nada melhor do que um cafézinho logo no começo da manhã, acompanhado de um bom papo, para começar bem o dia. Mas você está certa, as pessoas não fazem mais isso. Uma pena…

  19. Lorena disse:

    Lindo! Quando era pequena, notava que minha mãe nunca ia na casa dos outros. Até hoje ela não gosta muito, mas em compensação, até hoje a casa da minha mãe sempre tem a porta aberta para um cafezinho… E uma das coisas que mais sinto falta é poder ficar de “bobeira” sentada na calçada, vendo o movimento da rua, uma vizinha sentar, tomar um café, conversar…
    Eu tenho a vida muito corrida, mas onde moro ainda conseguimos nos finais de semana confraternizar um pouco com a vizinhança. Não como era na minha mãe, onde víamos o sol se por “jogando conversa fora”. Mas ao menos consigo conhecer as minhas vizinhas. E para não deixar que a nossa falta de tempo nos afaste, sempre uma de nós programa um almoçinho… ou um churrasquinho nos finais de semana, e assim, estamos criando a nossa maneira de manter contato entre vizinhos!

  20. Maria disse:

    Olá Lilly. Este post está escrito com muito carinho e saudade dos belos tempos da vizinhança de outrora.
    Aqui não havia essa “tradição” de vizinha andar em casa de vizinha. Mas havia boa vizinhança e quando era preciso alguma coisa, valíamo-nos uns aos outros.
    Hoje isso não acontece.
    A sociedade tem tudo, acha que não precisa de ninguém. O tempo passa, as mulheres e os homens envelhecem, ficam sozinhos. E morrem sozinhos.
    Talvez este tema seja o mote para escrever qualquer coisa sobre a minha vida de criança e adolescente.
    Beijinho

  21. Katia disse:

    Oi Lilly, sou visitante assídua do blog da reforma e hj pensei em visitar este que vc sempre fala c tanto carinho, e não me surpreendi com a maravilha de texo q vc escreveu pq ja sentia esse acolhimento e carinho nas suas palavras no blog da reforma.
    Quanto ao texto da sexta feira, penso que temos sorte de podermos falar c as amigas pela net, ja que é impossivel voltarmos aos habitos de nossas mães…. e é bom pq conhecemos pessoas diferentes e de outros estados, até paises, com quem podemos nos relacionar, pena não podermos sentar e tomar um bom chimarrão, ou um terere (tipo chimarrão c água ou suco gelado, que se toma mto aki em Mato Grosso) numa roda grande e animada.
    Abraços e que Deus continue abençoando a sua vida como pude observar que Ele ja faz.
    Katia, Cuiabá – MT

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